|
INFORMAÇÕES SUPLEMENTARES
|
A FUNÇÃO EXPONENCIAL NA MÚSICA | ||||||||||||||||||||
Considere $n$ o número inteiro de oitavas acima ou abaixo deste Lá e $V = f(n)$ o número da frequência da nota correspondente ao valor de $n$. Quando o número de oitavas estiver acima, consideraremos $n \gt 0$, quando estiver abaixo, consideraremos $n \lt 0$. Assim, tem-se $f(0) = 440$, $f(1) = 880$ e $f(\mbox{-}1) = 220$. A tabela abaixo nos fornece outros valores para a função $f$.
Observe que $... = \displaystyle\frac{f(4)}{f(3)} = \displaystyle\frac{f(3)}{f(2)} = \displaystyle\frac{f(2)}{f(1)} = \displaystyle\frac{f(1)}{f(0)}= \displaystyle\frac{f(0)}{f(\mbox{-}1)}= \displaystyle\frac{f(\mbox{-}1)}{f(\mbox{-}2)}= \displaystyle\frac{f(\mbox{-}2)}{f(\mbox{-}3)} = ... = 2$; isto é, $f(n)$ é uma progressão geométrica de razão 2. Tal fato sugere que $V$ seja uma função do tipo exponencial em relação a $n$, quer dizer: $f(n) = k \cdot 2^{n}$. Para encontrarmos o valor de $k$ basta usarmos o dado $f(0) = 440$ da tabela: $440 = f(0) = k \cdot 2^{0} = k$ Logo $V = f(n) = 440 \cdot 2^{n}$. Eis a função exponencial que é responsável pelas oitavas musicais do Lá. |
CONCENTRAÇÃO DE SUBSTÂNCIA NO SANGUE | ||||
|
MATEMÁTICA FINANCEIRA E FUNÇÃO EXPONENCIAL: |
||||||||||||||||||||||||||||||
Vejamos, se um capital $P$ é composto $n$ vezes por ano, durante $t$ anos, a uma taxa anual de juros $r$, o capital $S$ ao final de $t$ anos será expresso pela fórmula $S = P \cdot \left(1 + \displaystyle\frac{r}{n}\right)^{nt}$. Para melhor entendermos nossa fórmula, consideremos $P$ igual a 1 real, $t$ igual a um ano e a taxa de juros $r$ igual 100%. Uau! Quem não gostaria de receber 100% de juros sobre sua aplicação durante um ano? Mas esta hipótese é apenas matemática (e didática), foge completamente nossa realidade atual de míseros 0,5% ao mês, não é mesmo? Voltemos a nossa fórmula, agora com forma mais simplificada, pois $r = 1$, $P = 1$ e $t =1$. Suponha agora que a taxa de juros de 100% seja aplicada apenas ao final de um ano, ao término do empréstimo. Neste caso, $n$ também é igual a 1 e $S = 1 \cdot \left(1 + \displaystyle\frac{1}{1}\right)^1 = 2$. Isto é, a nossa moeda de 1 real teria rendido outra moeda de 1 real. Nosso capital que era de 1 real tornou-se, após um ano, igual a dois reais (dobramos nosso capital! Isso parece um bom negócio!). Suponha agora que a taxa de juros de 100% seja aplicada em duas etapas, quer dizer, semestralmente: 50% ao final de seis meses e mais 50% ao final do empréstimo. Neste caso $S = \left(1 + \displaystyle\frac{1}{2}\right)^{2} = 2\mbox{,}25$; isto é, em vez de dois reais, teríamos dois reais e vinte e cinco centavos. Se já estava bom, ficou ainda melhor! E se a taxa fosse composta bimestralmente, quer dizer, 6 vezes ao ano? Neste caso $S = \left(1 + \displaystyle\frac{1}{6}\right)^{6} = 2\mbox{,}5216263717421124828532235939643...$, quer dizer, receberíamos ao final de um ano, dois reais e cinquenta e dois centavos (como o banqueiro não é matemático, colocaria o restante dos dígitos decimais no próprio bolso). Melhorou, não é mesmo? Se a taxa de 100% fosse composta mensalmente? Ficou curioso, né? Confira as contas. $S = \left(1 + \displaystyle\frac{1}{12}\right)^{12} = 2\mbox{,}6130352902246781602995330443549...$, isto é, $S$ seria aproximadamente dois reais e sessenta e um centavos. Você deve está observando que à medida que $n$ cresce, o nosso saldo está aumentando. Continuemos então a aumentar o valor de $n$. Isso é muito bom! Considere agora $n = 365$, isto é, nossa taxa será composta diariamente: $S = \left(1 + \displaystyle\frac{1}{365}\right)^{365} = 2\mbox{,}7145674820218743031938863066851...$, que seria aproximadamente igual a dois reais e setenta e um centavos. Isto parece não ter fim, não é mesmo? Abstraindo de vez e viajando para o mundo matemático (fique tranquilo – como diria Platão – lá, tudo é perfeito!), construiremos uma tabela que nos mostrará até onde isso vai.
E aí, os valores de $S(n)$ continuam crescendo. Mas ao olhar para a tabela, você deve ter percebido que o valor 0,7182 parece estar consolidado nas quatro primeiras casas decimais dos valores de $S(n)$ que aparecem a partir da oitava linha. No entanto, a sensação que temos é que a sequência de valores $S(n)$ parece não ter fim, não é mesmo? Mas isso é só sensação. Isso passa, tão logo você conheça o mundo da Análise Matemática. Não é o caso aqui, mas é possível provar que os valores desta sequência $S(n)$ têm um limite quando fazemos $n$ tender ao infinito. E este ponto limite é, por definição, o número irracional $e$ (número de Euler). Este número é irmão (mais novo) de outro número irracional que você já ouviu falar: o $\pi$. A representação decimal de $\pi$, assim como de qualquer número irracional, também é infinita e não periódica. Assim, podemos sintetizar essa nossa conversa em notação matemática compacta do seguinte modo: $e = \lim_{n \rightarrow \mbox{+}\infty} \left(1 + \displaystyle\frac{1}{n}\right)^{n}$. |
A IDENTIDADE DE EULER |
||||||||||
$e^{i\pi} + 1 = 0$ A identidade de Euler contém os dois números irracionais transcendentes mais famosos da história da matemática, um número imaginário e os dois números inteiros essenciais para o mundo digital. A expressão é um caso particular de uma outra relação descoberta pelo matemático, a equação de Euler: $e^{ix} = \mbox{cos}x + i\mbox{sen}x$, qualquer que seja $x \in $ De fato, faça $x = \pi$ na equação e obteremos a expressão de Euler. $e^{i\pi} = \mbox{cos}\pi + i\mbox{sen}\pi = \mbox{-}1 \Leftrightarrow e^{i\pi} + 1 = 0$ Para a descoberta da relação $e^{ix} = \mbox{cos}x + i\mbox{sen}x$, Euler fez uso de uma função auxiliar que recebe hoje, em sua homenagem, o seu nome. A função de Euler é uma função complexa $E : $ Observe que
Observou alguma coisa de interessante na função de Euler? Não? Vê se você observa alguma semelhança com a propriedade da função exponencial a seguir: $e^{(x + y)} = e^{x}e^{y}$ Isso mesmo, a função complexa de Euler se comporta algebricamente como a função exponencial real $f(x) = e^{x}$. Pois bem, foi este momento de inspiração que levou Euler a definir $e^{ix}$ por $\mbox{cos}x + i\mbox{sen}x$. Pode-se chegar a esta fórmula por outros caminhos. Mas isso é o que menos importa aqui em nossa conversa. Por enquanto, é suficiente que você aprenda a admirá-la. Os cinco números que aparecem na fórmula representam quatro grandes áreas da matemática clássica: a aritmética representada pelo 0 e pelo 1, a álgebra pelo número imaginário $i$, a geometria pelo $\pi$ e a análise (cálculo) pelo $e$. Nessa expressão matemática está consolidada grande parte da história da própria matemática. Ave Euler!!! |
A ESPIRAL LOGARÍTMICA |
||||
Para desenharmos um círculo no quadro de giz podemos usar um barbante e um pedaço de giz. Primeiro amarramos o bastão de giz em uma das extremidades do barbante. Em seguida, esticamos o barbante, fixando a outra extremidade no quadro (ponto $O$ da figura abaixo) e giramos a ponta em que se encontra o bastão de giz em torno do ponto fixo $O$. O ponto $O$ é o centro do círculo. Observe que a distância de qualquer ponto $P$ do círculo ao ponto $O$ é constante. Denominamos esta constante de raio do círculo. Se considerarmos $r$ como sendo a medida do raio, conclui-se que a função que associa cada ângulo $\theta$ (veja figura abaixo) a medida $r = r(\theta)$ é constante. Imagine agora que, ao repetir o movimento anterior, você deixa o barbante escorregar lentamente no ponto $O$. Isto é, à medida que você vai aumentando o valor de $\theta$, o valor do raio $r(\theta)$ também está aumentando. O desenho que você irá desenhar no quadro se assemelha ao da figura a seguir. Esta curva plana é denominada espiral. Quando a função $r(\theta)$ é do tipo exponencial ($r(\theta) = e^{a\theta}$), a curva é denominada por espiral logarítmica (a palavra logarítmica está associada à forma antiga e equivalente de se representar a equação desta curva: $\mbox{ln(}r\mbox{)} = a\theta$). A figura do desenho anterior foi feita com um software matemático e é uma espiral logarítmica. A espiral logarítmica tem propriedades matemáticas notáveis. E, por conta dessas propriedades, essa família de curvas tem despertado o interesse não só de matemáticos, mas também de artistas e cientistas de outras áreas do conhecimento. Observe que esta curva parece a mesma em todas direções. Melhor dizendo, cada semirreta com origem no polo (ponto $O$) atravessa a espiral exatamente com o mesmo ângulo. Por isso a espiral logarítmica também é conhecida como espiral equiangular. A spira mirabilis, como a chamava o matemático Jakob Bernoulli, ocorre com espantosa frequência na natureza. Podemos observá-la, por exemplo, tanto na concha do náutilo bem como na forma de algumas galáxias.
Deixamos agora um desafio interessante. Imagine quatro insetos posicionados nos cantos de um quadrado. Ao tocar um apito, cada inseto começa a se mover em direção ao seu vizinho. Quais são as trajetórias dos insetos e onde eles irão se encontrar? Clique aqui para ver a resposta. |
CARACTERIZAÇÃO DA FUNÇÃO EXPONENCIAL | ||
Desenvolveremos a caracterização da função exponencial de dois modos: primeiro, usando a noção de acréscimo relativo (Teorema 1), e depois, a partir da relação existente entre esta função e as sequências numéricas (progressões aritméticas e geométricas) que você estudou no ensino médio (Teorema 2). Teorema 1 (Caracterização das funções de tipo exponencial.) Seja $g : $ Demonstração: Como vimos acima, a hipótese feita equivale a supor que $\phi(h) = \displaystyle\frac{g(x + h)}{g(x)}$ independe de $x$. Substituindo, se necessário, $g(x)$ por $f(x) = \displaystyle\frac{g(x)}{b}$, onde $b = g(0)$, $f$ continua monótona injetiva, com $\displaystyle\frac{f(x + h)}{f(x)}$ independente de $x$ e, agora, com $f(0) = 1$. Então, pondo $x = 0$ na relação $\phi(h) = \displaystyle\frac{f(x + h)}{f(x)}$, obtemos $\phi(h) = f(h)$ para todo $h \in $ (*) A passagem assinalada precisa ser demonstrada. Para ver o enunciado da proposição e sua demonstração clique aqui. Função exponencial e progressões Seja $f : $ $f(x_{1}) = ba^{x_{1}}$, $f(x_{2}) = ba^{x_{2}}$, ..., $f(x_{n}) = ba^{x_{n}}$, ..., formam uma progressão geométrica de razão $a^{h}$, pois $f(x_{n + 1}) = ba^{x_{n + 1}} = ba^{x_{n + h}} = (ba^{x_{n}}) \cdot a^{h}$. Como o (n + 1)-ésimo termo da progressão aritmética dada é $x_{n + 1} = x_{1} + nh$, segue-se que $f(x_{n + 1}) = f(x_{1}) \cdot A^{n}$, onde $A = a^{h}$. Em particular, se $x_{1} = 0$, então $f(x_{1}) = b$, logo $f(x_{n + 1}) = b \cdot A^{n}$. Teorema 2 Seja $f : $ Demonstração: Seja $b = f(0)$. A função $g : $
|
REFERÊNCIAS |
Hughes-Hallett, D., Gleason, A. M., Lock, P. F., Flath, D. E. et al. (1999) Cálculo e Aplicações. São Paulo: Editora Edgard Blücher LTDA. Kasner, E. e Newman, J. (1961) Mathematics and the Imagination. Londres: G. Bells and sons Ltd. Lima, E.L., Carvalho, P. C. P., Wagner, E. & Morgado, A. C. (2001) A Matemática do Ensino Médio. Coleção do Professor de Matemática. V. 1. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática. Maor, E. (2003) E: a história de um número. Rio de Janeiro: Record. |
|